terça-feira, 29 de abril de 2008

não posso tocar ou ser tocado
sou o tempo de passagem
testemunho confidências involuntárias
e desfaço -me embriagado na neblina da paisagem

confio no que vive e não deixa vestigio
no que passa e esquece o que encontrou
confio no incendio que me concebeu e neste vento
aliado indiferente
que até hoje nunca me abandonou

sábado, 26 de abril de 2008

Desde que me lembro ser isto que sou
espero aqui, de promessa antiga , o concretizar
mas sei-o sem saber que há muito me abandonei
onde outrora sonhei nunca alguém me encontrar

assim espero, de pé, em resignada vigilia
a face que me prometi vir a encontrar
ansiando acalmar o grito que me corrói a alma
que clama não haver sonho em que eu possa tocar

e esta voz que insiste em acompanhar-me
fala cansada sem mais nada a entregar
do que a funesta oração do homem-morto
que diz que ela vem e que está quase-quase a chegar


Pintura de Camille Rose Garcia

quinta-feira, 24 de abril de 2008

De Mulher


De mulher, apenas os fins e os meios
os ombros as costas e os seios


Dela esta forma de pensar
de olhos abertos
e falar por palavras minhas

O fim dos meus medos de menina

devo-o à silhueta feminina


De mulher os lábios, a cintura
e os braços
recolho-me aos pedaços
e entre tantos traços
já não sei o que é meu

espero um dia apresentar-me
à mulher que idealizo ser
num quarto onde só caiba eu


Minha expressão mais querida

que me toca de vida

e que me confia, a mim,

o princípio e o fim


De mulher mais nada