segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Não olhes agora mas


Ele vai cair
escorregar do trono
largou no sono
e deixou partir

O vão da escada
cedeu por nada
pancada
atrás de
pancada
deixou de ser segredo
ele já não tem medo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tento perder-me
mas teimo em encontrar-me
e não sei para onde fugir

Tentei comer-me
mas não tenho estômago
então deixei-me no canto da boca

Leio em leves ondulações
pronuncios de uma quimera impossivel
e ali não consigo mentir
deixo para trás o dever
e impossibilitado só consigo sentir
não me tenho mas consigo avistar-me
e sei que de lá não quero vir
mas acordo todas as manhãs
com aquele gosto colado ao céu da boca
e surpreso apanho-me a sorrir

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"O Paraíso, Agora!"



Eu vou...

e parto plena de mudança
no projecto de uma nova
prerrogativa confiança

Era agora,
mas o dia moveu maneira
de me roubar a hora
atrasou-me na demora
estive à beira
da vitória certeira

E volto...
para aquele canto no espaço
descansar as minhas dores
esse espaço tão propício
à companhia do vício
onde todos somos vencedores

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Carne

.
.

Quero...
possuir
consumir
pilhar
que já palpita exagerar
invadir o direito
tem de ser feito
e não fui eu que escolhi
este fado na sorte
mas a natureza
é carne
e a carne
é forte

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poesia-Paixão

.
.

A poesia-paixão
expande o cerco da vida
arde compreensão
em surda combustão
É mais justa a lei adormecida

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mais uma Chance a Menos



Este amor não é o meu

prometeu mas esqueceu
aconteceu que entardeceu
depois do crime que cometeu
meu romance
cansou a chance

Era um porto de algodão rosa
que o mar atingiu
bateu-se à luta e ruiu
mas foi amor que existiu
e tanto quanto conheceu
foi quanto redimiu

quinta-feira, 31 de julho de 2008

terça-feira, 29 de julho de 2008

A Dor é Pontual



No meu sonho

havia uma escolha
havia um banco de jardim
havia prometido
a insónias mais severas
que me decidia por mim

Fui imprudente
previsível jeito inocente
de me julgar potente
capaz de fabricar sentidos
por mim movidos
muito expedita a perturbar
a superfície da lagoa
não sabia que
a ponta afiada magoa
magoa mais
aquando da paralisia total
tão brutal
que nada mais é real

Não tinha feridas certamente
se me entreguei completamente
não me recordo
não sei onde está
aquilo que deixei cair
mas não foi por o ter perdido
que resolvi fugir

Hoje o meu sonho é mais breve
borbulha, inflama e desaparece
tenho recados para fazer
trabalhar para crescer
pretendo lançar-me a cumpri-los
meia grama para cinquenta kilos
casou o valor e a liquidez
Agora... Era uma vez

terça-feira, 1 de julho de 2008

Frente da Luta


Ele é um homem elevado
mais acordado

O que eu queria mesmo era
apanhá-lo desprevenido
e tomá-lo como amigo
roubá-lo, levá-lo comigo
e mostrar-lhe que não é assim
que sempre será defendido
se depender de mim

Vou recordar ao meu amigo
que aquilo que se sente
foi agravado pela mente
para ser única verdade presente
mas houve um tempo em que
contámos os anos pela mão
naquela altura o projecto
vinha depois da construção

E se ele não quiser falar
eu espero por perto a seu lado
teremos a companhia um do outro
cada um com o seu ruído privado

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Este é Meu

.
.
Meu orgulho insondável
minha aquisição mais preciosa
um poder ser ilimitado crescerá ao meu cuidado
certeza que me atinge como um trago
clarão sem trovão de ansiedade e gratidão
por esta oportunidade de rebelião
de perdoar em mim a imperfeição
porque a verdadeira emancipação está para vir

Para ele quero o ideal vitral do sonho azul
fundações que não o deixem vacilar
se eu me conseguir superar desta vez
talvez...
ele não hesite em acreditar
que quem lhe dá amor
encontrou motivos para isso

Para ele quero um sentido maior
paz interior
motivos inteligentes
coragem para continuar
verdade

Para ele todo o carinho e paciência
ponto-convergência da minha devoção

Meu filho terá mãos grandes como as minhas
e vou esperar ansiosamente até lhe poder dizer
sabendo que irá compreender;

"As tuas mãos são grandes para agarrares muito"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Existes Agora


Só tu
sem adornos
de encontro à calçada molhada
testemunha delatora das tuas investidas
numa manhã mais real que as outras

Só tu
com o cabelo em desalinho
em tons de violeta distinção
numa cidade-ruína
de onde desertaram
todos os protagonistas

Só tu desta vez
sem o apoio da pertença
a anestesiar os teus sentidos
sem o fumo e o licor
dos recantos da noite anterior
surge forma de apreciar melhor
o propósito-acidental de tudo isto
tudo quanto existe ser visto
tal qual como é

E quando por fim inevitável
o tremor da multidão habitual
perturbar teu tempo

segues blindado
em pensamento...


Antes de mais nada,
este mundo também é Teu.

segunda-feira, 26 de maio de 2008


... Um ponto de interrogação no meio das respostas ...

domingo, 18 de maio de 2008

Tenho Vertigens


Não se perdeu toda a inocência certamente
mas aconteceu surgir no tempo
novo compasso, doente


Afinal...

Um puxão apenas
desata o laço sedoso
ponto de costura engenhoso
no trançado versado das escolhas


Quando...

Licenciosa perversão
provoca minha superfície polida
cálculos de usura e proveito
ameaçam render-me comprometida


Porque...

Desafino da origem
e precipito-me na vertigem
de soltar a mão e saquear o dia
viagens nos meus sonhos de soberania


e No entanto...

Um homem não é só ébano ou luz
cada resultado só participa
do entendimento que o produz

sábado, 17 de maio de 2008

Paula Rego


Pinóquio e a Fada Azul


Mulher-Cão


Três Ratos Cegos

quarta-feira, 7 de maio de 2008


Beirut - Gulag Orkestar

terça-feira, 6 de maio de 2008

Trama de Sempre



Dá-me mais palavras tuas

para eu me incendiar

Fui desarmada
e por agora
estou apaixonada

Essa atitude independente
é demasiado atraente
meio-fim para seduzir e invadir

quem pensa o que sente

Penso que sou desequilibrada
gravito hipnotizada
para o princípio-prazer de ser maravilhada
sem o cerco da minha censura

Em segredo
sobra um desejo perverso
sobra querer mais de ti
calor e corpo, o inverso
porque a inteligência é sexy

segunda-feira, 5 de maio de 2008


"Blastula" - Digital Art

"Framed" - Digital Art

domingo, 4 de maio de 2008

O Verbo



Para ti

por te querer dar mais
pelo amor à expressão
do que de facto importa

Só o que importa
aquele verbo capital
corda essencial
que me paralisa
hesitante e desajeitada
no seu abraço

Para ti
...
confissões
o fumo dos cachimbos de água
sal e água fria do atlântico
andar a pé
dias infantis
noites adultas
o quente da cama depois do meio-dia
café
caramelo
a pele queimada
os cabelos soltos
tanta música
incenso
terra
cigarros
magnólias ao amanhecer


Mesmo assim só importa
aquele verbo tão sensível

Asseguro-te que me sai melhor
quando o digo
e não estas comigo

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Por não ter dado o que ele nunca pediu e por não ter esperado o que ele nunca prometeu foi neste mundo o meu melhor amigo e aquele a quem o espelho em que reflito teve sempre cautela de não ofuscar

contámos histórias de outras pessoas
calámos vozes vindas de dentro
deixámos pó por onde passámos
escondemo-nos os dois
á espera de um depois
que depois nunca convocámos

e da memória que ainda persiste
aquilo que me o faz querer esquecer
é o saber o que nunca lhe disse
e a maneira como o nunca tive de fazer.

terça-feira, 29 de abril de 2008

não posso tocar ou ser tocado
sou o tempo de passagem
testemunho confidências involuntárias
e desfaço -me embriagado na neblina da paisagem

confio no que vive e não deixa vestigio
no que passa e esquece o que encontrou
confio no incendio que me concebeu e neste vento
aliado indiferente
que até hoje nunca me abandonou

sábado, 26 de abril de 2008

Desde que me lembro ser isto que sou
espero aqui, de promessa antiga , o concretizar
mas sei-o sem saber que há muito me abandonei
onde outrora sonhei nunca alguém me encontrar

assim espero, de pé, em resignada vigilia
a face que me prometi vir a encontrar
ansiando acalmar o grito que me corrói a alma
que clama não haver sonho em que eu possa tocar

e esta voz que insiste em acompanhar-me
fala cansada sem mais nada a entregar
do que a funesta oração do homem-morto
que diz que ela vem e que está quase-quase a chegar


Pintura de Camille Rose Garcia

quinta-feira, 24 de abril de 2008

De Mulher


De mulher, apenas os fins e os meios
os ombros as costas e os seios


Dela esta forma de pensar
de olhos abertos
e falar por palavras minhas

O fim dos meus medos de menina

devo-o à silhueta feminina


De mulher os lábios, a cintura
e os braços
recolho-me aos pedaços
e entre tantos traços
já não sei o que é meu

espero um dia apresentar-me
à mulher que idealizo ser
num quarto onde só caiba eu


Minha expressão mais querida

que me toca de vida

e que me confia, a mim,

o princípio e o fim


De mulher mais nada